terça-feira, 23 de abril de 2013

Antologia Poética - Carlos Drummond de Andrade


Quem estréia nossa nova página é a Jornalista @Rafaela Angeli. Ela é uma quase integrante do Projeto Antenados (risos). Sempre que precisamos  ela está disposta a contribuir com suas  ideias  inventivas. Olha que bacana a dica. 

O livro que indico é Antologia Poética, de Carlos Drummond de Andrade.



O livro é uma reunião de poemas que vão desde sua estreia até a década de 1960 feita pelo próprio escritor. A obra é uma exaltação à beleza da palavra e é dividido em nove partes. São as seguintes: um eu todo retorcido; uma província: esta; a família que me dei; cantar de amigos; na praça de convites; amar-amaro; poesia contemplada; uma, duas argolinhas; tentativa de exploração e de interpretação do estar-no-mundo.
 
Drummond é um dos precursores do Modernismo, no Brasil, e ajudou a fundar “A Revista”, importante periódico que difundia o estilo pelo país. No Modernismo, os versos eram mais livres e menos rígidos, e falam do cotidiano, por isso, Itabira está sempre presente nos versos do poeta. 

O escritor, que também é contista, cronista, tradutor e escritor infantil, é considerado pela crítica o poeta da razão, pois podemos notar em seus versos sua relação com o mundo, colocando-se, por vezes, maior, menor ou igual ao mundo. Dialoga também com a individualidade e a coletividade, uma relação angustiante e amarga, dada também pela época em que essas poesias foram escritas: o mundo vivia períodos de guerra. 

                              @Rafaela Angeli

É difícil, para mim, dizer qual seria a melhor poesia da obra, que é muito grande e muito importante. Conheci a poesia de Drummond através de ‘No meio do caminho’, que a maioria já leu ou ouviu falar. No primeiro momento, achei estranhos aqueles versos e comecei a buscar interpretações para ele. Foi então, a partir disso, que me interessei pelo poeta. Me sinto orgulhosa por ele também ser mineiro, como nós. 

Escolho ‘O Amor Bate na Aorta’ para que todos possam conhecer e quem sabe também se encantar pela obra deste itabirano:


O Amor Bate na Aorta’

Cantiga de amor sem eira

nem beira,

vira o mundo de cabeça

para baixo,

suspende a saia das mulheres,

tira os óculos dos homens,

o amor, seja como for,

é o amor.



Meu bem, não chores,

hoje tem filme de Carlito.



O amor bate na porta

o amor bate na aorta,

fui abrir e me constipei.

Cardíaco e melancólico,

o amor ronca na horta

entre pés de laranjeira

entre uvas meio verdes

e desejos já maduros.



Entre uvas meio verdes,

meu amor, não te atormentes.

Certos ácidos adoçam

a boca murcha dos velhos

e quando os dentes não mordem

e quando os braços não prendem

o amor faz uma cócega

o amor desenha uma curva

propõe uma geometria.



Amor é bicho instruído.



Olha: o amor pulou o muro

o amor subiu na árvore

em tempo de se estrepar.

Pronto, o amor se estrepou.

Daqui estou vendo o sangue

que corre do corpo andrógino.

Essa ferida, meu bem,

às vezes não sara nunca

às vezes sara amanhã.



Daqui estou vendo o amor

irritado, desapontado,

mas também vejo outras coisas:

vejo beijos que se beijam

ouço mãos que se conversam

e que viajam sem mapa.

Vejo muitas outras coisas

que não ouso compreender.

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